30 novembro 2010

Viva a ação estatal no Rio!!! De toda frustração se tira uma lição...

(Igreja da Penha, Zona Norte do Rio, ao fundo, parte do complexo do Alemão.)

Minha ida ao Rio de Janeiro foi completamente frustrada do ponto de vista de meu intento de convencer minha namorada querer ir morar lá comigo... hehehehe, como todos viram o Complexo do Alemão foi invadido EXATAMENTE no final de semana que a gente ia pra lá... rsrsrsrsrs, e até eu voltei antes do previsto.
O fato é que cheguei no Rio de Janeiro na segunda-feira (22/11/2010), no Santos Dumont (ou seja, bem longe do Complexo do Alemão), já a noite pelas 21:00hrs... até aí tudo tranqüilo, do aeroporto até a Barra nem trânsito teve, estava tudo como sempre foi no Rio, lindo demais, só com um pouco de chuva, típica dessa época do ano.
Terça-feira fui a trabalho até a cidade de Arraial do Cabo-RJ e, na passagem por Manguinhos e pelos bairros da Zona Norte do Rio, muitos policiais ostensivamente nas ruas, carros blindados sendo exibidos e o nordestino aqui sem nem saber o que estava acontecendo, mas foi tudo sem maiores percalços, passamos pra BR e deixamos a confusão para trás.
No outro dia, quarta-feira, o centro do Rio estava em polvorosa, todo mundo apreensivo, boatos de um carro de dinamite que sumiu e que seria detonado na ponte Rio-Niterói, a Vila Cruzeiro já tinha sido invadida pela polícia, boatos de que seria ponto facultativo na quinta e sexta-feira e as notícias de que alguns carros tinham sido incinerados em alguns bairros da Zona Norte. 
Até então, pra banda da Zona Sul só tínhamos notícia de um veículo que seria queimado em Copacabana, mas que um vigia de um dos prédios conseguiu evitar.
Na volta, tudo bem, a única coisa que senti de diferente foi o tempo de trânsito na zona sul, é normal demorar (uma hora e meia, duas, no máximo), mas levei exatas cinco horas do centro até a Barra, indo pelo túnel Zuzú Angel. Era o povo com medo, voltando pra zona sul, aonde estava tudo "em paz".
Quinta-feira começou o "furdunço" (como se diz lá no nordeste), o centro do Rio vazio, vazio (nunca vi aquilo), tráfego quase nenhum da Zona Sul para o Centro (tudo bem que eu me desloquei cedo, umas 07:30hrs da manhã), mas estava anormalmente calmo para um dia de semana. 
Trabalhamos o dia todo enclausurados em uma área protegida, mas no final do dia, quando estávamos indo embora, lá pras 17:30hrs, o motorista da viatura me chamou e falou: "- Doutor, temos que ir por dentro, senão vamos ser metralhados, a viatura é ostensiva e não temos como deixá-la "à paisana" e a bandidagem tá pesada no centro!".
A partir daí comecei a ficar, de fato, receoso, começaram a vir notícias de que queimaram um ônibus no Túnel Rebouças, uma explosão na Tijuca, um outro veículo queimado na Ayrton Senna (na Barra), um na Av. das Amáericas (também na Barra da Tijuca) e outros em Ipanema, ops!, a violência chegou na Zona Sul, o negócio tá feio!, ligamos o rádio e notícias de que os moradores das comunidades invadidas poderiam se alojar em ginásios no centro da cidade pois seria perigoso retornar pra casa, o Secretário de Segurança do Estado do Rio assegurou: "- Não iremos parar e passaremos por cima de quem estiver no nosso caminho!". Posição forte e necessária, pensei...
Entre os colegas TODOS apreensivos e inseguros (principalmente os relaxados cariocas), conseguimos ir por um caminho seguro, andamos mais que o usual a pé para chegar ao local final de nosso destino no centro e pegamos um taxi para a Zona Sul do Rio... todas as notícias do rádio era a da invasão, pela polícia, no Complexo do Alemão, lugar NUNCA penetrado pela polícia, que sequer conhecia a geografia do lugar.
Depois disso liguei para a namorada e disse que não pegasse o vôo (estava marcado para aquele dia, às 19:00hrs), pois estava perigoso demais e eu não queria ficar com o peso de que aconteceu algo com ela após eu ter insistido de ir para o Rio com ela...
O carioca estava revoltado, acuado, cansado, sabe? Pra quem você perguntasse na rua dizia que deveriam matar os bandidos, que direitos humanos é feito pra gente de bem e não pra bandido sem coração, entre tantas outras manifestações compreensíveis, haja vista o constante clima de medo e insegurança vivido pelo carioca de bem que está farto dessa situação.
Na sexta-feira fui trabalhar pela manhã, alguns servidores nem foram pra casa, dormiram por lá mesmo (tinha uma senhora que morava no Complexo do Alemão), reunião rápida e às 13:30hrs estava num vôo de volta pra casa (também por Santos Dumont, graças a Deus!) com um mixto de alívio, tristeza, orgulho patriótico e muita fé. 
Alívio porque não aconteceu nada, estava voltando pra casa são e salvo, em que pese só ter sido vítima de uma pseudo violência, que foi a tensão psicológica dos acontecimentos.
Tristeza porque queria ter passado o final de semana no Rio, ter mostrado à minha namorada a cidade que eu quero morar (e ainda é quero, no presente!), o centro, a zona sul, as paineiras, o alto da boa vista, a barra, a prainha... foi tudo por água abaixo. 
Além disso estava saindo de lá feito um refugiado, talvez tenha ferido um pouco do meu brio, sabe? Queria ter ficado e enfrentado os bandidos como todos os corajosos cariocas que lá estavam e que não mudaram suas vidas por causa deles (os bandidos). Claro que não enfrentar como os bravos policiais, mas como o cidadão que não muda sua rotina por causa de bandido, que não foge da raia, assumo: Fui um covarde! Pra amenizar meu pesar, tinha a namorada sozinha em casa e eu tinha que voltar de lá, mas me senti como um desertor da pátria, se eu quero morar lá tenho que estar nas horas boas e ruins na cidade, não só nas boas, mas bem, feito o registro das minhas fragilidades, de fato fiquei triste por tudo isso...
Por outra banda, senti um orgulho patriótico e fé inigualáveis, tudo porque eu vi o Estado se impondo ao indivíduo, vi a coletividade ser prestigiada, vi o malfeitor subjulgado aos ditames da lei, igual eu aprendi na faculdade, vi uma população recobrando a fé nas instituições, vi a polícia ser vista como aliada da população e não razão de medo pelo cidadão, vi a polícia sendo abrigada e auxiliada pela população agradecida das comunidades que estavam sendo retomadas, vi bandidos fugindo, vi gente chorando de felicidade e me senti orgulhoso de fazer parte de um país como este (como disse no outro post sou extremamente otimista em relação ao Brasil).
Escutei Arnaldo Jabor, na rádio CBN, na sexta-feira logo cedo, afirmando que finalmente a população dizia que "polícia é polícia e bandido é bandido", eles não se confundiam mais... que orgulho eu tive de estar ali no Rio, presenciando aquilo e ouvindo tudo "in loco".
Neste momento as ações estão se desenvolvendo como vemos amiúde nos jornais, na TV, no Twitter, na internet e em todos os meios de comunicação... e vemos o Brasil todo pelo Rio, vemos a indignação do carioca espalhado por todos os Estados: de leste a oeste, de norte a sul... o povo está cansado da criminalidade impune e finalmente estamos reagindo a contento! Que bom que acordamos! Que bom que mostramos que o Estado é mais organizado que o Crime! Que bom que estamos mostrando isso em tempo real para o mundo todo ver!
Por derradeiro pedido, já findando o texto, só peço às Autoridades constituídas que não regridam, que instalem a UPP no complexo do Alemão, aumente um imposto, crie a CPMF, mas não deixem de pacificar a comunidade por falta de recursos, verbas ou de planejamento estratégico, não cedam mais espaço, finquem o pé aonde deve ser já que o Estado deve chegar em todos, mormente nas comunidades desprovidas.
Bem, é isso aí, não foi dessa vez que eu consegui convencer minha consorte a ir conhecer o Rio, mas me sinto honrado de ter estado lá nesses dias de confusão, envergonhado de ter "fugido" e orgulhoso por ver as instituições tomando o seu espaço, se firmando como guardiãs da sociedade e, principalmente, por ver que o crime organizado não é páreo o bastante para o Estado organizado e destemido!
Boa noite e felicidade para todos, desta vez em especial aos corajosos cariocas.

Garoto Bacana

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